quarta-feira, 24 de março de 2010

Que o fim dure para sempre

Algumas pessoas não gostam de chegar ao fim, porque em algo se assemelha com a morte. Mas muitas vezes é o início: o fim de uma etapa é o início de outra. Como este blog se presta a discutir questões de cinema, eu não vou discutir aqui questões ligadas à reencarnação, mas questões às etapas.


Antes, porém, quero discutir duas acepções para o termo "fim". Uma dessas acepções é o sentido de término, de impossibilidade de  continuidade. Essa é a acepção mais comum, é o sentido mais geral e que tanto medo acomete as pessoas - ao menos no tocante ao aspecto existencial. Em outros aspectos, parece menos atemorizador e às vezes até mesmo é um alívio, chegar ao fim.


A outra acepção da palavra fim é a de finalidade. É a esta que quero me ater aqui. Quando escrevi Dez Centavos, tive uma alegria grande quando cheguei ao final, pois, na minha avaliação, cheguei ao objetivo que me propus e com antecedência tinha avisado a Ive, minha continuísta: "Quero escrever um roteiro de cunho social, sem ser panfletário". Recebi o desafio: "Quero ver".


Pronto. Viu.


E aí? O roteiro precisava sair do papel - pra isso ele existe: sair do papel, desaparecer e, assim, passar a existir - e encontrou o inestimável apoio da Braskem, em um processo de seleção pública. Iniciava-se uma outra etapa, agora já sob a regência de César. O bom maestro fez bem o seu papel e realizou um filme com tanta beleza e força que o inevitável aconteceu: foi premiado em vários festivais.


Parecia o fim (final) da carreira do filme. Para mim, jamais foi o fim (finalidade) do roteiro e do filme. Receber R$ 100.000,00, para produzir um curta cujo título é Dez Centavos e aborda a sobrevivência de um menino de rua, não pode se fechar nos espaços de cinema, nos espaços de festivais, nos espaços das mostras.


Recentemente, recebi a notícia de que os direitos do filme teriam sido comprados pelo Ministério da Educação para serem exibidos, durante três anos, em escolas públicas, onde, lamentavelmente, estudam crianças que nas suas horas vagas trabalham como guardadores de veículos, flanelinhas,...


Para mim, parece que agora o filme chegou ao seu fim: atingiu o público alvo que carece de se ver nas telas de cinema, que carece de se ver como pessoa digna de registro, que carece de se olhar com a sua condição e entender que alguma coisa está fora da ordem.


Espero que o fim dure para sempre.



Um comentário:

Anderson disse...

Caro rei, que noticia boa.
Imaginava que você tivesse carinho por Dez Centavos, mas, mediante a essa nova perspectiva, acho que isso deve ter crescido bastante.
Com certeza isso não é o fim pra você.
Um abraço!